texto mega antigo...
Queria
poder voltar para aquela época; aquela época em que meu jardim era
como uma floresta; pegava uma madeira e fingia que era uma pirata
brincando de luta de espada; às vezes com um amigo; às vezes,
lutava com o vento, imaginando alguém ali; meus amigos, que existiam
apenas na minha imaginação; mas por alguma razão eu pensava que
poderiam ser reais, apenas por acreditar que eram mesmo. Eu era como
uma princesinha dos contos de fadas. Cheguei a cantarolar talvez não
tão belo, mas a cantar, enquanto admirava um beija flor bebericando
água no bebedouro posto na arvorezinha do jardim; era rodeada de
borboletas, e mesmo sabendo que eram apenas bichinhos, imaginava que
eram fadinhas voando em meio ás flores; talvez fossem, quem sabe. Já
vi uma borboleta tão grande que a chamei de rainha; era tão linda.
Eu era cuidadosa e chegava delicadamente perto de um passarinho,
esperando pelo momento que ele me daria o ar de sua graça, e sem
medo pudesse acaricia-lo; isso às vezes era possível; acho que
devia ser uma menina encantadora.
Eu
procurava por joaninhas e a noite caçava por vaga-lumes; para depois
soltar a poucos instantes depois de capturados. Era exploradora, tudo
era como uma aventura, tudo podia ser mágico se eu acreditasse; ou
apenas imaginasse ser. Já estraguei muitos vestidos e fantasias; os
usava em casa, enquanto brincava na varanda, muitas vezes para
incorporar o personagem, ou apenas por pura diversão. Mas hoje já
estou crescida; não sou adulta, não sou criança. Dizem que sou
infantil, e prefiro simplesmente ignorar. Se pudesse, ainda vestiria
um vestido do dobro do meu tamanho, pois eram antigos, de
aniversários de 15 anos e usados um por minha mãe, e o outro por
minha dinda, e voltaria a ser aquela garotinha que mexia com tinha,
que mexia com terra e lama, que ralava o joelho andando de bicicleta
e entrava em casa suja por me pendurar e trepar em lugares com muita
sujeira. Mas hoje estou crescida; sou sim infantilizada; e não vou
deixar de acreditar; de acreditar que em algum lugar do mundo, há
sereias nadando ou penteando seus cabelos em uma pedra enquanto pegam
um pouco de sol; que as fadas, tão espertas, vagam pelos jardins e
vivem em uma terra mágica, em um vale cheio delas. De imaginar, cada
vez que vou a praia, que em algum lugar além mar, um navio pirata
com um capitão que trata seus marujos como cães, e usam roupas
sujas com chapéus engraçados e espadas afiadas, navegam pelo mar em
busca de tesouro e matando sem pena os que os atrapalham. Gosto de me
imaginar morando em um grande castelo, em que posso sair e caminhar
pela floresta, mas sempre tomando cuidado com as bruxas, pois nunca
sabemos se elas podem ser boas ou más. Posso me imaginar fazendo
contato com fadas por um ritual secreto; posso me imaginar vagando
por uma floresta e descobrir que sou filha de um feiticeiro e erdei
muitos de seus poderes, que na verdade, apenas estavam adormecidos
dentro mim. Eu tenho 1.000 vidas; e nenhuma alma. Pois além de uma
princesa, mas nem por isso a procura de um príncipe; posso me
imaginar como uma mulher adulta, com a profissão que escolhi e sendo
feliz vivendo a vida que escolhi; posso me imaginar em uma tragédia,
sofrendo muito por um amor platônico, que no fim... Bem, nunca
sabemos o verdadeiro fim, pois a vida não é tão linda e alegre;
mas eu também posso me imaginar com meus ídolos, que amo tanto e
tanto, imaginar o dia em que os conhecerei e os verei cara a cara, ou
de longe já basta pra me fazer sorrir. Ou posso encarar a realidade;
mas isso é muito chato. Então continuarei sonhando; continuarei
sonhando até o último minuto da minha vida; porque sei; porque eu
quero e vou, continuar imaginando; continuar acreditando. É uma
promessa!
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