Um
dia terei partes do meu corpo repleto de tatuagens. Não tatuagens
delicadas, meigas e simples; tatuagens grandes, coloridas, cheias da
minha personalidade. E irão me representar, como a pessoa que sou.
Quando puder, terei meu cabelo colorido de novo, sempre rebelde,
volumoso, da forma que eu me sentir bem e bonita. Talvez um dia
apareça com uma namorada em casa; e quem sabe ela tenha tanta
ausência de “feminilidade” quanto eu. Um dia, se possível num
futuro próximo, farei um mochilão; viajarei de bicicleta,
acamparei, dormirei na casa de desconhecidos, trabalharei de forma
alternativa a medida que meu dinheiro acaba, farei trilhas, me
aventurarei, explorarei o que me for direito.
Posso
estar com o corpo definido, quem sabe um pouquinho acima do peso como
neste momento, ou até mesmo bem magrinha. Usando roupas masculinas
ou um vestidinho meigo. Talvez eu aprenda a usar maquiagem; use uma
base e tenha as bochechas gordinhas rosadas. Meu batom vermelho é
lei, porém mais que isso seria incômodo e é capaz de isso não
mudar tão cedo. O cabelo? Quero deixar crescer, contudo, pode me dar
a louca e deixar tão curto quanto neste momento. As unhas? Na vida
já foram roídas até o sabugo, já foram grandes, existiu uma fase
em que eu pintava sempre e agora mal passo uma base e não sei como
estarão no futuro. Só que algo é certo... Você nunca estará
satisfeita. Eu compreendo que queira “o melhor” para sua filha.
Só que não importa seu amor por mim, sempre serei aquilo que você
não aceita, alguém do qual você mudaria. E isso me chateia, pois
suas palavras me afetam e sinto-me cada vez mais deprimida, cada vez
afastando-me mais de você. E eu não quero isso, e sei que não quer
também, porém é oque está ocorrendo.
Antidepressivo,
um arrependimento. Me engordou tantos kilos e não me deixava “bem”.
No máximo melhorou minhas crises, isso é até verdade. Parei com a
medicação, pois como não fazia diferença com meu humor e ainda me
causou um peso extra. Peso esse que você adora jogar na minha cara,
fazer comentários de como estou “gordinha”. Obrigada mãe, é
maravilhoso ouvir o quanto eu engordei por reação de um remédio
idiota e não exatamente por que deixei de cuidar. Exatos dois meses
que parei com os comprimidos, perco meu peso devagar, pois ainda
sinto-me fraca fisicamente e emocionalmente para me exercitar de
forma pesada; perdi 6 kilos. E não é o suficiente? Não ouço nada
como “olha, está perdendo peso” ou “fico feliz que esteja se
cuidando”. Só ouço o quanto você ainda acha que estou “gordinha”
o que na realidade nem estou, eu apenas era muito magra antes. E você
ainda diz que é preocupação com minha saúde; palhaçada, fiz
tantos exames, recentes, e eu só ouço que estou completamente
saudável, então o problema é me por pra baixo não é? Afinal, não
é só da porra do peso que você reclama.
E
afasto-me cada vez mais de ti, e isso me dói. Realmente, dói muito
não conseguir relaxar perto da própria mãe, da qual sou tão
próxima. Uma mãe que eu sei que me ama, entretanto também sei que
sei pudesse, eu seria uma menina completamente diferente. E que é
provável que os anos passem e sua opinião não mude. Disse que
terei minhas tatuagens, e você obviamente terá tristeza. Que não
serei feminina da forma que tanto deseja, pois eu não nasci assim;
usarei saias e blusas fofas que você adora, como também colocarei
um blusão e jeans que você não suporta. Não é você que escolhe!
Não sou nem eu que escolhi. Ou pensa que é divertido ouvir
julgamentos da própria família, seja pela minha aparência, minha
personalidade, meus sonhos e minha sexualidade. Pois nada, NADA,
sobre minha pessoa os agrada. Parabéns família, vocês estão
fazendo com que eu queira distância, e se antes eu me privava de
certas coisas ou prazeres em respeito a vocês, agora é apenas um
caminho sem volta, em que pensarei na minha felicidade, e não no
conceito de felicidade que tanto querem me empurrar. Parabéns!
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